sexta-feira, 13 de novembro de 2009

FIAT LUX! ou Clara claridade



Andar alto, apartamento claro, sol da manhã, vista mar.

Provavelmente, você já viu um anúncio assim. Note que os itens claro e sol falam da mesma coisa, mas são repetidos propositalmente, ainda que num espaço-limite de caracteres, para se reforçar a ideia de que o apartamento – objeto do anúncio – esbanja luminosidade.

Até então eu não havia percebido tais nuances de intenção – tão claramente descritas – nos costumeiros anúncios publicitários de imóveis para aluguel e venda. Mas, com as experiências da minha recente mudança de residência, percebi a incidência e a reincidência de tais detalhes nos sites e nos classificados de imobiliárias. Entretanto, de certo modo, não liguei importância ao fato, imaginando tratar-se tal aspecto de apenas uma preferência de algumas pessoas.

A generosa mãe-experiência-de-todo-dia, no entanto, tem me mostrado o significado essencial do vocábulo claridade – substantivo feminino designativo de luz, luminosidade, esplendor... na concepção imediata de seu teor semântico. Houaiss relaciona ao termo, em algumas de suas acepções, as noções de brilho luminoso, aurora, clarão, clareza, dia, luminescência, resplandecência, resplendor, sol. Na verdade, embora eu nunca tenha prestado atenção ao teor etimológico de claridade, logicamente eu sentia e sabia a sua expressividade. Afinal, quem não sente a energia intrínseca à Luz? Sabe-se de antemão que se trata de um bem sem igual, algo que ilumina espaços e abre caminhos... É claro que sempre estive consciente disso. O que não me chamava a atenção, contudo, era a antonímia do termo, que remete a vocábulos-ideias como escuridão, nevoeiro, obscuridade, treva. Ora, tais palavras são capazes até de assustar, não é mesmo? Lembrando esses termos, parece que me dei conta – como que num clique – do real efeito da antítese luz / escuridão. Deve, pois, ser mesmo verdade que lugares claros (=iluminados) trazem bonança, afinal o seu oposto significa o obscuro, a treva, o tenebroso. Ora, se o opaco é ruim, então, opostamente o brilho só pode ser bom! Parece silogismo de uma só proposição, mas é mesmo verdade: além de quase todo mundo gostar da claridade, esta é bem mais benéfica e poderosa do que se pode imaginar.

E, na esteira da etimologia, chego ao teor semântico de claridade no contexto da vida. Refiro-me ao que pode significar, na sucessão dos dias, o fato de se estar em ambientes claros e iluminados... Ora, precisei aderir a uma fase mais solar para perceber uma série de coisas que não enxergava antes! Vejo agora como os ambientes da minha casa – antigamente, quase sempre, encerrados em cortinas, ante a luz de abajoures (por força de hábitos arraigados) – podem ficar mais receptivos à luz natural do sol!... Estou habitando um apartamento clean, onde os espaços, cheios de leveza, parecem adornar-se com a suavidade da luz do dia!...

Papos metafísicos à parte – tenho mesmo me rendido a uma convivência diária com o sol, de modo mais direto. Não que eu não gostasse dele antes (já fui, inclusive, uma habitué de banhos solares matinais), mas – por haver adquirido, há uns bons anos, o hábito de me encerrar em um mundo particular, entre livros, DVDs, telas, tapetes, cortinas e laudas – não me predispunha a absorver as horas diárias em consonância com o relógio do sol. Adentrava a noite, as madrugadas (isso ainda faço, mas com certo limite) e, no raiar do dia seguinte, tinha sempre uma história de sono vespertino para acertar... Fusos particulares dentro de um mesmo espaço geográfico!


Dentro dessa ótica – recentemente reinaugurada –, sem querer fiz ilações mentais quase dignas de um estudo (sem pretensões), lembrando vários aspectos que nos remetem à importância da claridade. E cheguei à conclusão de que muitas coisas na vida atestam a ordem habitual: Deixe a luz entrar na sua casa. Falo aqui de elementos vários... Afinal, todos preferem casas claras e buscam tal luminosidade não por acaso. Certamente não é à toa que no cinema vemos retratado o mal num contexto de trevas, assim como na Bíblia e na acepção comum das pessoas. E o reino-poderio da claridade já começa com a própria sentença divina registrada na descrição da gênese: FIAT LUX! (Faça-se a luz!) E tudo começou...

E o homem começou a habitar a Terra, e a inventar seus modos de viver. E o que marcou, então, "primórdios primordiais" desse tempo? A descoberta do fogo! Portanto, a luz!... No compasso da História, acontecimentos e simbologias também foram marcando a dicotomia claridade X treva. Haja vista a denominação Século das Luzes (século XVIII). Aqui se lembre o clarão ocorrido no campo das ideias: o Iluminismo. Na verdade, o movimento significou, justamente, intrínseca oposição aos preceitos da Idade Média, denominada de Idade Escura, justamente por lhe faltar a liberdade de pensamento do homem. Com o Iluminismo – a luz, pois! –, surgiu, ou se re-descobriu o clarão da razão humana, vindo à tona a ideia de valorização do homem como ente pensante e propiciador: mente iluminada!... E tal se refletiu na organização social e política da época. Como resultado natural de um novo pensamento humano – com conscientização e aprimoramento do antropos –, foram implantados os estados-nação, ampliaram-se os direitos das pessoas, enfraqueceram-se as oligarquias tão arraigadas... Abriu-se, então, caminho para a Revolução Francesa: liberdade, igualdade e faternidade... a partir da luz de uma razão recém-descoberta!

E Thomas Alva Edison inventou a lâmpada elétrica! E levou luz a toda parte! Fim absoluto de um tempo de sombras na casa e no cotidiano da humanidade. A claridade aí veio em forma de progresso, conforto e possibilitação energética. A propósito, você já pensou se não houvesse luz elétrica? Já se imaginou vivendo em uma época “clareada” apenas com tochas ou lamparinas? Impensável, não? Isso sem contar que toda a nossa vida diária estaria impossibilitada, afinal é impossível imaginar qualquer movimento dentro de casa sem um eletrodoméstico ou similar. Sem Internet?...

Fugindo ao contexto doméstico, nas matas também encontramos a força da antítese claridade / treva. Ou você não imagina como deve ser uma floresta à noite?... E também não é à toa que se chama de clareira o vão possibilitador em que não há vegetação dentro de uma mata...

Outro dado para esse tratado (risos) é o próprio símbolo de ideia, criatividade, insight, iluminação reveladora: a lâmpada! Quando se quer mostrar, simbologicamente, que se teve uma ideia, desenha-se uma lâmpada! Como a Lampadinha do Professor Pardal... Aliás, qual foi o símbolo escolhido para ilustrar a companhia permanente do cientista genial dos quadrinhos? A lâmpada – leia-se a luz –, e realmente não poderia ser outra!... Também quando as pessoas pensam não haver saída para os seus problemas, mas de repente acham a solução, costumam dizer que encontraram “a luz no fim do túnel”...

Aqui nos reportemos também ao tal ofuscante clarão divino, explicado até pela Ciência que as pessoas costumam dizer ter visto após saírem de uma EQM (experiência de quase morte)!... Mas a idéia de claridade, do que é iluminado, não se restringe apenas a simbologias como essas. A luz é muito mais: como sugere o Gênesis – que a instalou no começo dos começos –, ela é essencial à vida! De fato, a Ciência mostra que sem a luz do Sol não haveria vida na Terra. A propósito, o Sol!... E a Lua! É preciso falar algo mais sobre o significado do resplendor?

Enfim, da sua mente à sua casa ou ao seu planeta, LUZ ( = CLARIDADE) é energia pura e poderosa para a sua vida! Aproveite-a! Abra as janelas e deixe a luz do Sol entrar!

Por Sayonara Salvioli

P.S.: Eu estava com este texto escrito, prestes a ser publicado aqui no blog, quando houve o apagão!... Coincidências metafísicas ou não, os exemplos lembrados só vêm fazer coro a uma necessidade, conceitual ou prática, que temos: LUZ, em todos os sentidos – no conteúdo e na vida!